Diante de algumas situações de indisciplina ocorridas na escola, em especial uma que aconteceu em decorrência de uma saída de turmas ao cinema, onde após, uma aluna do oitavo ano agrediu verbalmente com palavrões e com gestos obscenos a diretora da escola.
Esta cena desencadeou uma série de comentários distorcidos e desenfreados não só dentro da escola, como também na comunidade.
Na tentativa de resolver esta situação, a direção conversou com a mãe e com a aluna, ponderando o acontecido e convencendo ambas que seria melhor uma transferência da aluna a fim de acalmar os ânimos e manter a ordem na escola.
Hoje, olhando meu face, por acaso me defronto com um excelente artigo que aborda o tema indisciplina de uma maneira esclarecedora, reflexiva e de cunho democrático. Ou seja, bem ao encontro a tudo o que tenho tentado refletir e construir dentro da escola, um espaço mais participativo e democrático, onde as tomadas de decisões sejam a partir das discussões do coletivo diretamente envolvido.
Entretanto, concordo com a frase do artigo em que diz: "Para que não haja problemas sérios de indisciplina, é necessário que a escola se preocupe em construir a disciplina que deseja", ou seja, tudo é construção.
De acordo com o Professor e Diretor Claudio Neto, em suas experiências e vivências "escolas que não compreendem a necessidade de considerar a participação dos alunos tem enveredado pela via da repressão e do disciplinamento".
"Em contrapartida, aquelas escolas que obtiveram êxito no processo de construção da cultura de paz foram aquelas que apostaram na participação dos alunos e da comunidade escolar", e cita alguns fatores do sucesso:
- As regras:
Repactuar as regras com a participação dos alunos e da comunidade, começando dos direitos para depois tratar dos deveres, ainda que eles também sejam importantes. Este gesto sinaliza que a função da regra não se limita a restringir, mas garantir direitos também.
- A coerência:
Zelar pelo cumprimento das regras é tão importante quanto estabelecer o que deve e o que não deve ser feito. Há coisas que devem ser feitas por todos da escola e não apenas pelos alunos. Pois, na maioria das vezes são as incoerências que inviabilizam a validade das regras no contexto escolar.
- Os dispositivos de acompanhamento e solução de conflitos:
Evidentemente não basta criar boas regras e nem considerar a participação dos alunos apenas no momento de elaboração delas. Estabelecer as maneiras de resolver os impasses e envolver os alunos nisso também é fundamental.
- A impessoalidade da regra:
Parece redundante e óbvio falar em regra impessoal, mas entender isso é fundamental para o sucesso da construção da disciplina na escola. Afinal, nem toda obviedade é tão óbvia como parece ser, principalmente em uma organização plural como a escola. Nas escolas em que as regras não são claras, ou o desrespeito a elas é flagrante, os desfechos variam de acordo com as pessoas responsáveis em fazer a mediação e, principalmente com o humor dessas pessoas no momento da mediação.
- Democracia e aprendizagem:
Os grandes fundamentos da cultura de paz na escola. O acesso ao conhecimento – bem cultural produzido social e historicamente pela humanidade e veiculado na escola – é a grande razão de existir dessa instituição e dos educadores. Afinal, a aprendizagem é um fator organizador da disciplina e não o contrário. Onde, acesso ao conhecimento deve ser visto como parte do processo democrático na escola e não apenas a participação nos momentos de escolha e de decisão. Se isso for devidamente compreendido teremos a máxima que deve ser observada por todas as escolas: não basta à escola ser democrática, ela deve promover a democracia.
Referência:
https://gestaoescolar.org.br/conteudo/1964/como-construir-a-disciplina-e-o-clima-de-paz-na-escola ( acesso em 02/04/2018).
* Claudio Marques da Silva Neto é diretor da EMEF Infante Dom Henrique, em São Paulo. Tem experiência em direitos humanos, formação docente, cultura escolar, indisciplina, violência e gênero. É mestre e doutorando em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro Indisciplina e Violência Escolar: dilemas e possibilidades.
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