Após um ótimo final de semana junto da família e uma segunda-feira de hora atividade, chego na escola terça-feira e me deparo com uma faixa preta amarrada em uma árvore, e para minha surpresa e perplexidade sou informada por algumas alunas que aquilo era pelo luto do Júlio que tinha sido morto na sexta feira. Fiquei chocada e sem entender. Como assim? Que Júlio? Morto como?
Então fiquei sabendo pelas colegas que o nosso aluno Júlio de 14 anos, havia morrido baleado em decorrência de uma perseguição da polícia, devido ao fato de estarem em um carro roubado e terem fugido após abordagem, ocasionando a capotagem do veículo e troca de tiros com os policiais.
Fiquei com um sentimento de tristeza misturado com impotência, indignação e revolta. O Júlio era um aluno muito humilde, carente e filho de uma família totalmente desestruturada, sem pai e sendo criado por uma mãe usuária de drogas, mas, era um menino de coração bom e ingênuo, que acabou se envolvendo com gente que não presta, que ilude, chantageia e até obriga crianças vulneráveis como ele a cometerem delitos. Por isso, desde o ocorrido fico pensando e me questionando, o que nós enquanto professores podemos fazer para mudar estas realidades? Será que a escola com uma realidade tão precária de recursos e atrativos consegue manter estes alunos longe das tentações destes aliciadores? Será que nós professores, mesmo cheios de boa vontade e determinação conseguiremos alertar e convencer estas crianças das consequências destas escolhas? Como convencer crianças tão carentes, que não tem quase nada, de que isto é certo ou errado? Quem somos nós para dizer a eles o que é certo ou errado se nossa realidade é totalmente adversa a deles? Porque a vida tem que ser tão injusta e cruel para a grande maioria da população? Será que estas crianças são vistas pela sociedade?Onde está a sociedade civil e o poder público nestas situações?
Meu Deus, que tristeza pensar que uma criança que poderia estar ali junto dos colegas, por uma situação que poderia ser evitada, mas em um momento de imaturidade e de tentação, acaba sendo vítima do descaso e do acaso. Muitas dúvidas e poucas certezas. Mas, uma certeza eu tenho, de que nós professores jamais vamos desistir e deixar de acreditar nos nossos alunos e na educação. A nossa realidade é precária, mas a nossa luta é diária e constante.